(do Informativo São José deste mês, página 4)
A palavra Quaresma vem do latim ”quadragésima”. Esse tempo litúrgico compreende os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até Quinta-feira Santa antes da missa da Ceia do Senhor. O número 40 é simbólico e recorda muitas cenas da Bíblia: os 40 anos de caminhada do povo hebreu pelo deserto, os 40 dias que Moisés passou na montanha, os 40 dias de caminhada de Elias para chegar à montanha do Senhor, os 40 dias de Jesus jejuando no deserto.
A Quaresma não tem sentido isolada da Páscoa. Na caminhada quaresmal não vamos ao encontro do nada ou da morte, mas caminhamos para a Ressurreição do Senhor e nossa.
As origens da quaresma são antigas e estão ligadas a outros acontecimentos, como a preparação dos catecúmenos ao Batismo, e a prática das penitências, muito em voga nos primeiros séculos. Já no século IV se fala de quaresma penitencial; nos séculos II e III, costumavam-se fazer alguns dias de jejum em preparação à Páscoa.
A Igreja, neste tempo quaresmal, une-se todos os anos ao mistério de Jesus no deserto. Portanto o espírito quaresmal é de um grande retiro de quarenta dias, durante os quais a Igreja propõe aos seus fiéis o exemplo de Cristo em seu retiro no deserto, e se prepara para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.
As cinzas (que são os ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior) que recebemos em nossa fronte no início da Quaresma, é um sinal de que nos comprometemos com uma verdadeira conversão. As cinzas são o símbolo da fragilidade humana, lembrando-nos a passagem bíblica que diz que ”tu és pó e ao pó voltarás” (Gênesis 3,19).
A penitência, tradução latina da palavra grega “metanóia”, que na Bíblia significa conversão (literalmente, mudança de espírito) do pecador, designa todo um conjunto de ações interiores e exteriores dirigidas para a reparação do pecado cometido e o estado das coisas que resulta dele para o pecador. Literalmente, mudança de vida se diz do ato do pecador de voltar a Deus depois de ter estado distante de Deus, o do incrédulo que alcança a fé.
A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres da Igreja nos falam de três formas: o jejum, a oração e a esmola, que expressam a conversão com relação a si próprio, a Deus e aos outros.
Todos os fiéis, cada um a seu modo, estão obrigados a fazer penitência pela lei divina. Para que todos se unam na observância de alguma prática, são prescritos dias penitenciais, que devem ser cumpridos com a maior fidelidade (cf. Código de Direito Canônico, 1249). No tempo da Quaresma, prescreve-se jejum e abstinência de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e, as sextas-feiras, como memória da morte do Senhor, são momentos fortes de prática penitencial da Igreja.
“Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações como sinal de penitência, as privações voluntárias como jejum e a esmola, a comunhão cristã dos bens – obras de caridade e missionárias.” (Catecismo da Igreja Católica, 1438)
Somos chamados a concretizar o desejo de conversão realizando as seguintes obras: indo ao encontro do Sacramento da Reconciliação (Penitência ou Confissão), fazendo uma clara confissão e arrependendo-nos de todo coração; superando as divisões, perdoando e crendo no espírito fraterno; praticando as obras de misericórdia.
Os católicos, na Quaresma, tem que cumprir o preceito do jejum e da abstinência, assim como confessar-se e fazer sua comunhão pascal. O jejum consiste em fazer uma só refeição ao dia, ainda que se possa comer menos do que o costume de manhã e à noite. Não se deve comer nada entre as refeições principais, salvo em caso de enfermidade. Obriga-se a viver a lei do jejum todos os maiores de idade, até que tenham cumprido 59 anos (Catecismo da Igreja Católica, 1252). A abstinência é a privação de comer carne e seus derivados, e a lei da abstinência obriga todos os que já fizeram 14 anos. (Catecismo da Igreja Católica, 1252)
Temos que participar melhor deste tempo que a Igreja nos propõe dentro do mistério pascal. Somos convidados à participação dos sacramentos, da missa, à participação nas comunidades, nas via- sacras, nas celebrações penitenciais. Boa quaresma a todos!
Padre José Cipriano Ramos Filho é sacerdote da Diocese de Piracicaba