Deus não é obrigado a atender todos os pedidos e nem na hora e do jeito que cada fiel quer; não se presta a barganhas, superstições e oportunismos contidos em orações e ações pouco ou nada permeadas por valores cristãos: no entanto, multidões caem na esparrela de influenciadores sem formação, de pregadores de araque, uns famosos, sem isenção.
Fiel que se permite mergulhar no mistério da fé vai aderindo à verdade libertadora de que a vontade e o caráter de Deus a gente entende em parte e aceita no todo. Deus sabe o que nenhum fiel sabe, d’Ele provém somente o que é bom para todos (para todos = catolicidade ou universalidade). A fundamentada, honesta e sensata compreensão e aceitação de Deus que é possível alcançar nos conduzem a compartilhar delas e d’Ele com fartura e, quanto mais o fizermos, mais desfrutaremos do inesgotável amor divino.
A Igreja são as pessoas que nela fazem comunidade. O crente cristão procura e incentiva a vida comunitária, participa compromissado das celebrações litúrgicas, e, com sentimentos, intenções e atitudes correspondentes, vive nas demais comunidades do seu cotidiano; participa das orações para todos os presentes e ausentes, fazendo jus à catolicidade inerente à nova e eterna aliança firmada por Deus com todos os povos, por intermédio de Jesus e com o Espírito Santo; a Santíssima Trindade: “um Deus que é um, mas que são três pessoas” – Deus Pai, que Salva, Deus Filho, Salvador, Deus Espírito Santo, Revelador. Então, até distante fisicamente daqueles pelos quais se ora e com os quais se ora, mesmo que não conheça todos, o fiel estará contido no amor ágape característico da fé e vida cristã.
Verdadeiras e adequadas orações agradecendo, oferecendo e pedindo graças ou bênçãos mantém-se até quando o destinatário recusa, não percebe ou desdenha; se emissor ou destinatário não retiverem na memória tudo que oraram, o poder da oração extrapola: estando no sentimento e na reta intenção, Deus age, conforme Seu perfeitamente justo critério.
A oração conduz e está na Palavra de Deus, que é para ser escutada, vivida e anunciada. Oração liberta e aproxima numa relação filial amorosa na qual confiamos toda a nossa vida a Deus. “A autêntica oração, portanto, é um ato de confiança em Deus, pedindo-lhe como filhos, mas deixando que Ele decida como Pai.”
Jesus rezava com serenidade e clareza (Lc 6, 36; 12, 22-31) e criticou os fariseus que se garantiam conhecedores da lei e não necessariamente a seguiam, apontavam o dedo a quem não fosse e agisse conforme a convicção deles, e alardeavam a si próprios quando rezavam; Jesus ensinou que ser para todos é mais que dizer uma oração: é celebrá-la, como o bom samaritano (Lc 10, 30-37), pois a oração pode ser rezada nuns minutos, mas deve corresponder a toda vida (Mt 6, 9-13; 7, 7-21; Lc 6, 46). Cada vez que atendeu a quem pediu com fé o fez sem exigir conversão e pagamento (Lc 8, 48; Mc 5, 34). Ensinou que se rezasse discretamente (Mt 6, 5-6) e se fizesse mais que apenas pedir e esperar: antes de tudo, perdão (Mt 18, 21-22).
São várias as modalidades de oração, a começar pela adoração: “só a Deus nós adoramos, e a ninguém e nada mais”. Milhões de fieis são piedosos devotos de Santos, o que é muito bom. Aos Santos se venera, homenageia. Santo é aquele que se separou do pecado e viveu conforme a vontade de Deus, sendo exemplo de vida para todos. Pela história de vida de um Santo se pode ter afinidade com ele ou ela. A imagem de um Santo diz que ele é Santo pelo poder e graça de Deus e sua veneração dá glória ao Senhor, muitíssimo mais que a ele. Pode-se fazer oração diretamente a Jesus: é d’Ele a única e essencial mediação. Quando o fiel sereno e sensato pede também a intercessão de um Santo que já está na glória, crê que o Santo pode interceder e sabe que quem atende é Jesus: se, quando e como Ele quiser, e para todo bem do fiel.
Insira no seu cotidiano pedir só o necessário, levar vida caridosa, valorizar o poder de comunicação do silêncio e continue, nesta ordem: a) oração de adoração – liturgicamente, adorar é mais que amar; b) oração de perdão – pedindo e aceitando, livrando-se de rancor, inveja, egoísmo e outras sujeiras; c) oração de agradecimento – até pelos momentos de dor e sofrimento, sem revolta, sem se fazer de vítima, como oportunidade de lapidar-se e dar testemunho; d) oração de súplica – começando pela de plena e feliz aceitação da vontade do Pai. “Orar não é saber como dizer, mas o que dizer ao Deus em que cremos”. Santos da Igreja atestaram que começamos a consolidar o propósito de aprender a orar quando começamos a sentir necessidade de oração tanto quanto necessitamos do ar para respirar e da água para beber. Dizia Santa Tereza de Ávila: “Vocês pensam que Deus não fala porque não se ouve a Sua voz? Quando é o coração que reza, Ele responde. O Senhor sempre dá oportunidade para oração quando a queremos ter”. Quanto mais o cristão desenvolve e atende concretamente a necessidade de orar, mais se compromete com a construção do Reino de Deus e mais se realiza. Ser realizado é ser salvo…
José Carlos de Oliveira, editor do ISJ – radioplena.com.br – josecarlosdeoliveira.com.br