A festa de Corpus Christi, ou, mais exatamente, do Corpo e do Sangue do Senhor, recorda que o mistério pascal está todo presente na celebração eucarística. E eucaristia é a memória da Páscoa, a ceia da nova aliança. É o centro da vida e da missão de Jesus entre nós. Ele veio fazer de nós uma comunidade solidária, cujos membros se amem, ajudem-se e vivam em união comum e na partilha, capazes de vencer as divisões, brigas, competições e exclusões.
O Concílio Ecumênico Vaticano II deu-lhe novo significado, ligando-a es-treitamente à Páscoa do Senhor, o mistério eucarístico por excelência. A Eucaristia como memória da Páscoa é a ceia da nova e eterna aliança, centro da vida e da missão de Jesus entre nós. A festa de Corpus Christi recorda que o mistério pascal está todo presente na Celebração Eucarística.
Celebrar a Eucaristia é renovar a aliança no sangue do Cordeiro, que se entregou por nós radicalmente como servo. Participando da Celebração Eucarística, somos convidados a fazer de nossa vida um serviço e dom gratuito, para o louvor de Deus e a libertação da humanidade. Uma oferenda perfeita com Cristo, pela ação amorosa e sempre fecunda do Espírito Santo. E, assim tornar autêntica a afirmação de nossa fé: “Ele está no meio de nós!”.
Na celebração da Eucaristia, nos comprometemos com a solidariedade para com as pessoas, a partilha do pão com os pobres e a comunhão com todos os que fazem o bem, fazendo, assim, memória do que Jesus realizou em toda sua vida: entregou-se na Cruz. E, na Cruz, o Pai o exaltou, ressuscitando-o.
O Pai vê, nessa entrega de seu Filho, uma grande força, que, aos poucos, vai nos unindo e reunindo em comunidades fraternas. Uma força que nos ajuda a vencer todas as divisões, explorações e desigualdades, e a sermos pessoas pascais e eucarísticas capazes de dar a vida e de criar comunhão. Enfim, a sermos testemunhas do Ressuscitado no dia a dia.
Na celebração de hoje, lembramos e proclamamos pelas ruas. Ele veio fazer de nós uma comunidade de pessoas solidárias, eucarísticas, que se amam, se ajudam e vivem em união e na partilha dos alimentos, capazes de vencer as divisões, brigas, competições e a exclusão. Saímos pelas ruas para cantar o que somos e o que somos chamados a realizar na sociedade e na Igreja.
A carta aos Hebreus lembra que Jesus Cristo foi livre ao entregar seu sangue para nos purificar e libertar. E, nesta entrega, realiza a nova aliança, o novo sacerdócio e novo sacrifício. Jesus é, ao mesmo tempo, sacerdote – o que oferece – e vítima – o que é oferecido.
Em sua morte e ressurreição está o único sacrifício da nova aliança. O sangue dos animais apagava os pecados e purificava o povo. O sangue de Cristo, vítima sem mancha, traz a plenitude: “Ele purifica das obras da morte a nossa consciência, para que possamos servir ao Deus vivo”.
Atualizando a Palavra
A Eucaristia é a aliança eterna e definitiva de Deus conosco, selada pelo sacrifício único de Jesus Cristo. Seu gesto de amor e entrega é para sempre e permanece atual, pela liturgia, em todo tempo e no decorrer da história da salvação da humanidade.
No pão e no vinho da última refeição de Jesus, faz-se presente antecipadamente o dom da sua vida entregue até a morte sangrenta na cruz. “A entrega de Jesus, sua morte-ressurreição, que aconteceram uma única vez (Hb 10,10-18), tornam-se presentes para nós pela ação litúrgica, ou seja, toda vez que fazemos memória destes fatos e de nossa salvação, anunciamos a morte do Senhor, até que Ele venha (1Cor 11,16). Não se trata de uma repetição, mas de uma atualização”. O sacrifício é um só.
Somos redimidos por um amor sacrificado, um amor que doou corpo e sangue, isto é, doou a vida. Não é o sangue por si mesmo que salva. O que salva são o amor e a fidelidade que levaram Jesus a enfrentar morte cruel e sangrenta. Depois da sua morte, não há outro sacrifício de sangue, o amor de quem o derramou, e este é valido para sempre.
Unindo-nos ao amor de Jesus, entregamos, no momento da Celebração Eucarística, o nosso corpo e sangue, toda nossa vida a serviço dos irmãos. Assim, nos tornamos “uma oferenda perfeita” com Cristo e em Cristo.
Se, na verdade, desejamos participar da mesa eucarística, agora e no banquete celeste, somos convidados a participar de seu serviço gratuito e assumir em nossa carne a sua doação radical.
“Se queres honrar o Corpo de Cristo, não o desprezes quando ele está nu. Não o honres assim, na Igreja, com tecidos de seda, enquanto o deixas fora, sofrendo frio e carente de roupa. Com efeito, o mesmo que disse: ‘Isto é o meu corpo’ e que realizou, ao anunciar, também disse: ‘Viste-me com fome e não me deste comida (…)’. Começa por alimentar os famintos e, com o que te sobre, ornamentarás o altar” (Catequese de São João Crisóstomo).
Ligando a Palavra com ação litúrgica
Hoje, cantamos com entusiasmo “coração ao alto”, no prefácio, e damos graças ao Pai pelo Cristo que fez, de sua vida, o dom total. Corpo entregue e Sangue derramado, como alimento e bebida, centro alegria, felicidade e comunhão com o Pai.
Corpo e Sangue do Senhor feito pão e feito vinho – sinal sempre presente da comunhão viva e total do Cristo com a humanidade, desde a encarnação até hoje e para sempre. Sacramento do Senhor que não exclui ninguém, mas que se entrega para comungar com todos e, assim, com todos formar um só corpo.
Pão e vinho transformados no corpo sacramental do Senhor nos unem; fazem de nós, que comungamos, o corpo vivo do Senhor – seu corpo eclesial a serviço de seu corpo cósmico e universal.
E a melhor maneira de dar graças é participar desse pão e desse vinho que Cristo nos oferta, fazendo nossa a “ação de graças” que Cristo oferece ao Pai. Com Ele, dedicamos nossa vida e, ao sermos alimentados dele, nos comprometemos com o seu projeto de erradicar a fome do mundo e tornar visível o Reino da paz e da fraternidade.
E, assim, celebremos com alegria e festa, num clima de profunda fé, a salvação que o mistério eucarístico realiza em nós. Saboreamos desde já, pela comunhão de seu Corpo e Sangue, o banquete eterno e a participação na festa do Reino que, no céu, dura para sempre.
Maria Aparecida de Cicco – Teóloga, com especialização em Ciências da Religião com enfoque em Ensino Religioso, por muitos anos atuou como catequista, coordenadora paroquial e diocesana da Catequese, tendo a formação de catequistas como foco principal do seu trabalho.