Tem gente com fé e sem religião e com religião e sem fé. Tem muito mais gente piedosa que estudiosa e entre os estudiosos nem todos aprendem ou são fieis ao que aprendem. Quanta vez se fala de Jesus mais conforme a visão obtusa ou interesseira do formador, pregador e de quem eles convencem, menos conforme a Boa Nova. Dentre esses e outros joios, as correntes de oração mal feitas ou feitas para o mau comprovam e contribuem para a má formação, os contra testemunhos não percebidos e as contraditórias divisões entre os cristãos: prato cheio para os convictos de que religiões e religiosos seriam superstições e supersticiosos, alienantes e alienados.
Acontece uma corrente de oração quando várias pessoas se põem em oração pedindo a misericórdia e a ajuda de Deus. Quanto mais pessoas aderirem a uma corrente de oração, mais força terá aquele pleito dirigido a Deus. Jesus é explícito sobre o poder da oração feita pela comunidade de dois ou mais para pedir a graça do Pai (Mt 18, 19-20). Porém, não estabeleceu condições duras e muito menos ameaças caso não fossem cumpridas. Muitos levantam falsos ensinamentos, exemplos e testemunhos de si mesmos ou de gente que teria rompido corrente e sofrido terríveis consequências: onde a mentira encontra guarida na mensagem evangélica? É cristão quem mente e chantageia em nome de Jesus?
Inventar ou aderir a uma corrente de oração que contenha prêmio para uns e ameaça ou garantia de castigo, desgraça, condenação para outros é expor e sucumbir à própria ignorância, condição propícia para superstições e chantagens psicológicas; geram medo ao invés de temor, como se Deus fosse ameaçador: nada disso é corroborado pelo Santo Livro e, portanto, não é referendado pela Igreja (CIC – 2111). O supersticioso é contrário ao primeiro mandamento da lei de Deus. Superstição e fé plena em Deus não coexistem: uma exclui a outra. Correntes de oração não fundamentadas e desonestas pescam crentes em fórmulas mágicas mais que em Deus.
Dentre outros, Santo Antônio, Santo Expedito, São Judas Tadeu, Maria, a mãe de Jesus, nos diversos nomes que cada região, por inculturação, deu a ela, estão entre os Santos mais usados nas correntes de oração. Muitas vezes, a intenção é boa e a fundamentação é boba, distorcendo e desperdiçando o belíssimo histórico de vida e ensinamento cristão dos Santos, piorando se ao final aparecer exigência de publicar num jornal, fazer cópias, deixar nos bancos dos templos, nas caixas de correio, em balcões de estabelecimentos comerciais, exigir que se reze tantas vezes, que se mande por e-mail, WhatsApp ou Facebook, com ameaça de condenação, maldição ou outra baboseira contra quem a quebrar. Corrente de oração dissimulada pode estar a serviço de piratas da informação pessoal alheia ou da contaminação por vírus de informática. Erros de acentuação, pontuação e grafia são comuns. Essas correntes propagam orações e fundamentos com gravíssimos erros teológicos, litúrgicos, bíblicos, pastorais, complicam e distorcem o ensinamento e entendimento de Deus e da Igreja.
Com orientação da Igreja, Novena, Terço, grupo de oração e reflexão, escola ou círculo bíblico, oração em família, oração silenciosa e corrente de oração são propícios para aproximar e interagir com Deus e legitimados conforme convergentes ao modo que Jesus testemunhou, com a certeza feliz de que “com Deus a gente só ganha, mesmo quando perde”!
Corrente de oração é uma das formas de falar com Deus. As adesões devem ser livres, amorosas, sem imposições; por vontade e confiança de que é bom e não para fugir de inexistentes retaliações divinas. Oração e corrente de oração se validam impregnadas de amor, respeito e gratidão para com Deus, portanto, também para com o próximo, inclusive, do qual se diverge.
Ao receber corrente de oração com imposições e ameaças troque-as por alguma obra abnegada caridosa, por algo que crie disposição de acolher e compartilhar, mesmo sem maior embasamento: votos de bom dia, bom trabalho, cumprimentos por um dia especial ou digna tarefa realizada, frases, imagens, vídeos e orações puras e livres de amarras contraditórias. São modos de agradecer a Deus por graça alcançada, mesmo que sequer a tenha pedido ou pensado. Quanto mais se aprende e experimenta a arte empática e litúrgica de escutar, mais se evolui de apenas acreditar para crer e mais é clarificada e saboreada a presença e perenidade da graça de Deus.
O que for visível compartilhe com moderação: por melhores que sejam as intenções de quem envia e a qualidade do conteúdo enviado, pela quantidade de pessoas que se conhece e os recursos tecnológicos, a saturação é inevitável. Seja complacente com aqueles que lhe saturam com o que enviam: você pode saturar os outros e dependerá da complacência deles. O que parecer invisível compartilhe sem moderação: dos seus pensamentos, sentimentos, intenções e orações os seus destinatários poderão não saber ou nem acreditar, mas, Deus sabe e procede por eles e por você; portanto, cuidado com o que permite habitar sua mente e principalmente sua alma e seu espírito (CIC 367; 1Ts 5, 23).
Todos os dias recebo e ignoro montes de fatos, versões e opiniões inventados, distorcidos e estúpidos sobre política partidária, gestão pública, economia, mídia, religião e comportamento em geral; e quebro infames correntes de oração que me enviam. Em troca, cultivo a disposição de não me agastar com os que me destinam essas coisas: rezo para ter paciência e compreensão com eles e para que tenham comigo (também sou ignorante dum monte de coisas e o aprendizado é gradual, constante, limitado e sujeito a erros), rezo agradecendo por me quererem bem e que, com harmonia mesmo na diversidade de opiniões e escolhas, cresçamos, ora aprendendo, ora ensinando; rezo para que sejamos bons testemunhos aos que refugam ou negligenciam a própria dignidade e fundamentação, e que cada vez menos nós vejamos um desses quando nos olharmos no espelho…
Quem já tem mudado de só assistir para celebrar o Mistério Pascal de Jesus na Missa, o conjunto de orações que constituem a oração maior, na qual é intrínseco o “compromisso de libertação,” e durante todo o Ano Litúrgico; quem já se embasa corretamente nos documentos da Igreja (Catecismo, Constituições, Decretos e Declarações do Concílio Vaticano II, Diretório Litúrgico, outros documentos oficiais, livros, artigos de quem já conhece e é fiel a eles, à Igreja e a Jesus), participa pró-ativamente das atividades formativas; conversa com quem se prepara para falar e esclarecer e o faz com fidelidade e adequação: não desperdiça tempo com correntes vazias, outras crendices e contra testemunhos. Sabe que orações formuladas para Jesus, Nossa Senhora ou outros Santos devem ser conforme acompanhamento da Igreja para serem válidas, e se receber uma oração ou um livro de devoções deverá ver registrada a autorização para imprimir, com o nome do Bispo que autorizou a impressão (tomando cuidado com falsários e falsificações…). Se você ainda não está entre estes: “tudo tem seu tempo e sua hora”. Importa querer. Fale com um Padre, Diácono, Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, Catequista, comigo ou outro católico engajado e recomendado; se engaje nas celebrações e atividades formativas da Paróquia e da Arquidiocese: apesar das limitações e falhas da sua porção humana, e mantida santa pela sua porção, origem e destino divino, com bilhões de dignos servidores ao longo do caminho, geralmente anônimos, com milhares de líderes fidelíssimos, há dois mil anos a Igreja cuida, estuda, aprende, testemunha e propaga a Boa Nova, fiel ao Seu fundador.
Se você é adepto de uma das denominações dissidentes da Igreja Católica, de dissidência de dissidências, de outra religião, sincretista, esotérico ou de nenhuma: reze por nós a seu modo e linguajar, assim como eu e outros rezamos por você. Divergimos n’algumas questões, mas, se convergimos em amar o próximo como a nós mesmos e tratá-lo como gostaríamos de ser tratados, então, cada um, e uma multidão conosco, é como um elo da corrente que nos une a todos com Deus (como quer que você o conceba, ou conforme seu modo de entender a vida e o depois dela). Apesar do relativismo, individualismo, separatismo e hipocrisia que grassam até entre fervorosos e religiosos, pesquisas atuais e sérias continuam ratificando que é do meio de gente como a gente que surge o maior número de solidários, caridosos, servidores e doadores nas boas obras das instituições religiosas e nas diversas instituições seculares.
Este artigo é longo por ser farto em sugestões de correntes mais fiéis, viáveis e em expressões propositalmente não de todo explicadas, na esperança de despertar curiosidade para questionar e de estabelecer o propósito de gerar atitudes construtoras do hábito de orar e celebrar o que se ora: corrente que exige, para bem caminhar com as próprias pernas, ser e viver conforme a imagem ou caráter de Jesus…
Você e eu, para todos!
José Carlos de Oliveira, editor do ISJ – radioplena.com.br – josecarlosdeoliveira.com.br