A oração é um dos temas mais discutidos em toda a Tradição cristã. Desde os primeiros séculos até os tempos atuais, existem pessoas que dedicam vários tratados que abordam esse assunto: a título de exemplo os místicos carmelitas espanhóis, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, os quais escreveram ilustres obras que estabelecem o modo como Deus se relaciona com o ser humano.
No entanto, em um mundo em que nos relacionamos com muitas pessoas, através dos meios de comunicação, observa-se que a nossa relação com Deus está sendo colocada em segundo lugar. Desta maneira, faz-se necessário abordar a temática da oração, já que é através dela que entramos em contato com o Autor da vida. Ademais, uma das definições mais belas de oração nos foi dada por Santa Teresa d’Ávila: “a oração mental não é senão tratar de amizade com quem sabemos que nos ama”, ou seja, é um vínculo de amor entre duas pessoas distintas.
Para interpretar corretamente as palavras da mística espanhola seriam necessárias todas as páginas desse informativo, e ainda não conseguiríamos esgotá-las, já que o seu significado é profundo. Porém, existe um relato bíblico que expressa o que a santa compreende por oração, o qual se encontra no Evangelho de São João (4, 1-25), o qual narra o encontro de Jesus com uma samaritana no poço de Jacó. Essa passagem pode ser uma referência à vida de oração, pois a mulher vai à cisterna com o objetivo de buscar água, porém, o evangelista deixa claro que Jesus estava no lugar antes dela chegar.
São João relata que Jesus inicia o diálogo pedindo água à mulher e ela se assusta com a solicitação, devido a desavença entre samaritanos e judeus. Em outras palavras, é o mesmo que acontece na oração, pois Jesus se encontra no nosso interior e tem sede de nós; não que Ele precise do ser humano, mas sim porque nos ama e sabe que nós necessitamos Dele para sermos felizes.
À vista disso, nós vamos até Ele, assim como a samaritana, devido a sede que temos do seu amor, às vezes, não sabemos nomear aquilo que sentimos e buscamos satisfazer a nossa sede com distrações inúteis, porém, saiba que a inquietude que se encontra no nosso coração só pode ser saciada por Aquele que deu a vida por nós.
Deus nos destinou para uma relação íntima com Ele, e não podemos renunciar esse fim, pois Ele constitui a essência do ser humano, isto é, o desejo por Deus é uma característica própria da criatura, já que somos seres caminhantes que buscam a felicidade e esta só se encontra em Deus. Desta maneira, a palavra que melhor define oração, seria “busca”, pois estamos em uma contínua procura de querer satisfazer os nossos desejos pessoais, contudo, só através do contato com Deus o homem consegue ressignificar os seus anseios, já que uma das caracte-rísticas que diferenciam os cristãos das outras religiões é que quando nós rezamos procuramos conformar a nossa vontade a Deus, e não mudar o desejo divino como acontece com os pagãos.
O nosso relacionamento com Deus na oração tem a característica singular de amizade, já que o amor de Cristo nos congrega em uma união íntima com o Criador, sendo que ela antecipa o gozo celeste de contemplar a face do Senhor. Logo, a oração é uma atitude de quem ama, isto é, daquele que se entrega completamente a Deus e espera fazer em tudo a sua vontade. Desta maneira, temos os exemplos dos santos que demonstram o que foi dito acima, como, por exemplo, São Vicente Pallotti, o qual rezava sem cessar para que a sua vida se conformasse a de Cristo. Ademais, o seu apostolado era consequência de suas orações, em razão de que mesmo fatigado com as tarefas de sacerdote, ele dedicava muitas horas a adoração ao Santíssimo e a práticas ascéticas.
Em suma, a sede que se encontra em nós só pode ser saciada por Jesus, desta maneira, não busquemos satisfazer o nosso anseio interior com coisas inúteis como, por exemplo: programas de televisão, redes sociais, mas nos aproximemos Daquele que pode dar a água que jorra para a Vida eterna.
Obs.: Este artigo foi introdutório, e não buscamos nos aprofundar em questões a respeito da teologia espiritual. Nos próximos meses serão publicados artigos sobre as formas de oração e os seus frutos na vida espiritual. Até breve!
Fr. Matheus Manholer de Oliveira, SAC