Pela enésima vez sugeri que houvesse esforço presente e crescente para que se habitue a não desperdiçar, não pichar, não poluir, separar e reciclar o lixo etc, mesmo que tal esforço seja de poucos e insuficiente para livrar o planeta e as pessoas das gravíssimas consequências do comportamento errático da humanidade. Uma ouvinte disse que eu nem devia tocar no assunto, pois, naquele horário nenhuma criança escutava e aos adultos não adianta falar. Ponderei que se o mundo ideal não existe não faço disso desculpa para ser omisso ou desistente.
Lembrei padre Humberto Geller, que do alto dos seus quase noventa anos ensina que a gente deve sempre buscar atividades e conteúdos para a nossa formação, não tanto para ampliar o saber, mas, para resgatarmos um pouco do que esquecemos e conservarmos parte do que estávamos por esquecer. Ele ainda repercute o educador Paulo Freire: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Humberto é um dos mestres que ensinaram a viver me fundamentando em assuntos e comportamentos que poderiam ser inerentes e habituais a quaisquer pessoas minimamente preparadas e valorosas, e que cada vez mais são tidos como qualidades, diferenciais e, mesmo, raridades – e para outros não passam de tolices e obsolescências; e me ensinou a assumir o risco de ser minoria e até exceção. Gente como padre Humberto e eu mais incomoda que instiga. Ante tal afirmação e os elogios que lhe faço, imagino-o a dar de ombros e a dizer uma de suas galhofas: “Tô nem aí!”
Especialistas em comportamento humano dizem que 95% das pessoas são imitadoras e só 5% são iniciadoras. Espero estar melhorando meu trânsito pelos dois grupos. Escolher ser iniciador dos valores tão caros à humanidade e cada vez mais desprezados por pretextos tão baratos é o que me apraz ao assentar tijolos na construção da parede que se constrói e não se conclui: o mundo ideal.
Meu propósito habitual é que a partir de informações em parte ou no todo já conhecidas consiga incomodar e instigar alguém a experimentar evoluir da inércia ou ação imitadora superada, superável ou equivocada para atitudes iniciadoras melhores, adequadas, convergentes aos princípios comezinhos das relações intrapessoais e interpessoais fundamentadas, equilibradas, prazerosas, proveitosas e diferenciadas: que, quanto mais raras, mais valiosas e necessárias tem sido nos diversos segmentos; sendo o ápice no corporativo, brotando no familiar e avançando no político e religioso.
Há mais de sete bilhões de mundos ideais e cada qual com suas idiossincrasias. Entre as minhas estão os permanentes esforços para não cair na vala comum de manter a amplitude do meu mundo dentro dos limites do próprio umbigo. Ser imitador ou iniciador do que é tido como aceitável segundo o senso comum pode e deve ser muito bom, cultivado, ampliado, compartilhado e recomendado: convém ser e estar na média do que se espera das pessoas civilizadas. Entretanto, algumas pessoas constatam que média remete a mediocridade e isto, por mais aceitável e suficiente que o seja para multidões, para elas não basta: não se acham e não querem ser melhores que ninguém; esforçam por serem elas mesmas hoje melhores que ontem, na esperança entusiasmada de amanhã melhores que hoje.
Espero que alguém se incomode com minha repetição, se instigue e experimente ser iniciador: transforme informação comum em conhecimento concreto ou o melhore, com discernimento evolua para sabedoria, com ela transforme meras ações em atitudes marcantes, estas em hábitos, com dignidade, resultando na gradual e inevitável troca da mediocridade pela excelência. Espero que alguém me incomode com sua repetição, me instigue…
Os adultos, quantas vezes, nos comportamos infantilmente e, muitos, pateticamente, geralmente somos mais birrentos que crianças mimadas demais e mal educadas: nisso somos paupérrimos imitadores. Quando continuamos iguais a elas na pureza do constante aprender, ensinar, criar, inovar e realizar sem segundas intenções, nós somos ou podemos ser riquíssimos iniciadores. Então, no meu mundo ideal em construção inacabável, acho que falo para crianças.
José Carlos de Oliveira, editor do ISJ – radioplena.com.br – josecarlosdeoliveira.com.br