Pelos registros de Mateus e Lucas, cada qual com seu formato e propósito, José liga Jesus à descendência de Davi: Mt 1, 1-16; Lc 3, 23-38. No entanto, nenhuma palavra de São José foi registrada nos livros canônicos e até isto ajuda a perceber a grandiosidade do seu caráter e de sua importância na história da salvação: sua humildade não era equivalente a medo, omissão, insegurança, inferioridade; equivalia a cordialidade, alteridade, altruísmo, empatia, abnegação e outras virtudes de um homem bom, justo, discreto, trabalhador, temente e obediente a Deus. Quando e enquanto não compreendeu o que aconteceu com sua amada, assumiria o ônus de se afastar; quando compreendeu, abraçou sua missão com o mais puro e pleno amor – Mt 1, 18-25.
O calendário litúrgico reserva duas datas para celebrá-lo e a celebração mais importante é o dia dezenove de março. Liturgicamente, é uma Solenidade, o grau mais alto, acima da Festa e da Memória. São José teve por missão zelar por Maria e por Jesus; assim como os protegeu, zela pela Igreja, da qual é patrono.
A segunda celebração é no dia primeiro de maio. É Memória para celebrar o trabalho de São José, que, com seu ofício, deu sustento à sua família, exemplo e conhecimento ao seu filho Jesus. José era um misto de carpinteiro, marceneiro e pedreiro, conforme padrões daquele tempo e lugar: a imaginação de pintores e escultores posteriores retrata cadeiras e mesas, mas, as pessoas entre que sentavam e inclinavam no chão. Na Galiléia de povoados pobres como Nazaré e seus duzentos a quatrocentos habitantes, destacava-se a centralidade da cidade de Séforis: não citada diretamente no Novo Testamento, ricamente construída para acomodar a elite protegida pelo império romano e onde, possivelmente, José e Jesus trabalhavam e interagiam com culturas diversas.
Na Festa da Sagrada Família ele é parte inseparável, como esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Acontece no domingo após o Natal (ou no dia trinta de dezembro, caso o Natal caia em um domingo). Tradicionalmente representado como o chefe e protetor da Sagrada Família, a missão de São José foi guiar e proteger o “bem” maior, que é Jesus, e, depois d’Ele, e por causa d’Ele, Maria. A expressão ‘chefe’ não tem nada a ver com hierarquia, assim como a ‘submissão da esposa ao marido’, em Ef 5, 22-33, e a mulher ter sido ‘feita a partir da costela do homem’, conforme Gn 2, 21-24. Tais expressões, típicas da cultura daquele tempo e região, inclusive, dos gêneros literários utilizados, dizem, noutras palavras, que homem e mulher, com amor, cada qual com suas propriedades, convergem e se complementam!
Se sua esposa é chamada de “primeira cristã”, José poderia ser chamado de segundo cristão? Pode-se argumentar se seria adequada ou não tal expressão. Importa é que as características e comportamento de José exemplificam o que se espera de um cristão; e de uma pessoa verdadeiramente ética, portanto!
Estima-se que a devoção ao pai adotivo de Jesus iniciou entre os séculos III e IV. O livro de oração “Pietá” registra uma prece a São José, datada do século I – “Esta oração foi encontrada no 50º ano de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”…
“Ó São José, cuja proteção é tão grande, tão forte e tão imediata diante do trono de Deus, a vós confio todas as minhas intenções e desejos.
Ajudai-me, São José, com a vossa poderosa intercessão, a obter todas as bênçãos espirituais por ‘intercessão’ (mediação) do vosso Filho adotivo, Jesus Cristo Nosso Senhor, de modo que, ao confiar-me, aqui na terra, ao vosso poder celestial, Vos tribute o meu agradecimento e homenagem.
Ó São José, eu nunca me canso de contemplar-Vos com Jesus adormecido nos vossos braços. Não ouso aproximar-me enquanto Ele repousa junto do vosso coração. Abraçai-O em meu nome, beijai por mim o seu delicado rosto e pedi-Lhe que me devolva esse beijo quando eu exalar o meu último suspiro.
São José, padroeiro das almas que partem, rogai por mim! Amém”!
José Carlos de Oliveira
josecarlosdeoliveira.com.br
Teólogo, MESC e formador arquidiocesano
Curitiba PR